“Cada coisa a seu
tempo... Não florescem no inverno os arvoredos,
nem pela primavera,
têm branco frio, os campos.” Fernando Pessoa
Olho para o relógio
do pulso, do criado-mudo, da parede, das ruas... Eles dizem tudo, exceto as
horas. Às vezes, me sinto assim. Não sei o que fazer. Não sei o que pensar. Não
sei se é cedo ou tarde... se o tempo parou ou as coisas pararam
no tempo; se permaneço ou me desfaço; se fiz ou deixei de fazer; se
falei demais ou de menos; se entreguei todo o meu ouro, quando deveria guardar;
se cantei na hora errada, cantei a música errada ou não deveria cantar; se...
De repente, tudo
parece perdido. Paraliso. Nessas horas, que os relógios teimam em não dizer...
e ninguém diz, há uma mensagem oculta que, ás vezes, eu não consigo
entender. Outras vezes, entendo, mas não aceito. Quero o concreto, a verdade, o
doce escondido. Desses momentos, resta a generosidade da alma absorta,
serena... A paciência também é uma companhia. E, por trás dela, descubro um
sentimento extraordinário... bonito por não ser fruto de nenhum plano. Desejoso de ser mais, de ser "nós."
Diante da dúvida, vem a antiga, mas
sempre nova credencial que, em instantes, me leva ao futuro, mostrando um
tempo que virá. Um tempo, onde não haverá espaços para "se",
"talvez", "ou", "quem sabe". Me fala de coisas
que, certamente, a razão não falaria. Esta credencial que chamo de intuição, quase
nunca falha e eu quase sempre acredito. Quase sempre.
Sobre
o tempo, nada sei... mas o que era efêmero se desfez. Ficou o que é eterno.