e serena." Mahatma Gandhi
Faz algum tempo que estive em Açailândia, município maranhense, participando da "I Jornada de Debates para a Erradicação do Trabalho Escravo no Maranhão”, promovida pela Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado e participação da OIT - Organização Internacional do Trabalho, entre outros participantes. Nesse período, trabalhei nessa secretaria, em cargo de comissão. Em virtude disso, tive a oportunidade de participar de muitos eventos como esse. A vontade de aprender, de ajudar e a curiosidade me levaram a muitos lugares. Na passagem do Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo, 28 de janeiro, lembrei-me de todo o aprendizado da Jornada... Lembrei-me de tudo que vivenciei e das histórias assustadoras que ouvi.
Acho estranho falar sobre trabalho escravo no século em que vivemos. A escravidão foi abolida, na época do império, com a Lei Áurea. Mas, lamentavelmente, a escravidão, ainda que não seja a mesma do passado, está entre nós de uma forma mais moderna, dissimulada e silenciosa. As pessoas são submetidas a uma situação degradante e desumana. A pouca instrução e o analfabetismo contribuem para que eles sejam enganados. Seus documentos são retidos e as dívidas, injustamente, contraídas, os fazem perder a liberdade de ir e vir. Pagam até pelo que deveria ser uma obrigação do empregador. No fim, recebem nada ou quase nada. A verdade, é que essas pessoas pagam para trabalhar. O Maranhão é o 4º estado com maior número de empregadores escravistas. A zona rural é uma região muito traumatizada pelos conflitos e pela violência. Os trabalhadores são tratados como verdadeiros escravos.
As bases do trabalho escravo são os altos lucros gerados pela mão de obra "barata" e a impunidade. Sim, impunidade. Porque a maioria dos empregadores escravistas tem grande influência política e econômica. Sabemos muito bem como isso acontece. É um "molha a mão" aqui, um "molha a mão" ali. Sou totalmente a favor da PEC do trabalho escravo, que expropria terras onde esse tipo de trabalho acontece. A emenda foi aprovada em 2012, mas ainda tramita no Congresso. Acredito no esforço conjunto de todos que lutam para combater esse mal, mas o número de auditores fiscais do trabalho e servidores envolvidos é insuficiente. Quanto mais fiscalização, mais as necessidades serão atendidas. Nos últimos anos, milhares de pessoas foram libertadas, entretanto, há uma grande dificuldade em punir os "poderosos". Há, na internet, uma lista suja com 409 nomes de empregadores escravistas. Para eles, tolerância zero.
Sou inquieta com todas as questões que tentam diminuir a pessoa humana. O trabalho não deve degradar o ser humano, mas dignificá-lo. Segundo Gandhi, alguns dos pecados capitais responsáveis pelas injustiças sociais são: Riqueza sem trabalho; comércio sem moral; política sem idealismo; e ciência sem humanismo. É preciso reprimir essas práticas. Não há fórmulas mágicas ou um botão de upgrad para que tudo seja melhorado em um clique, no entanto, para aqueles que, como eu, acreditam, há muito trabalho pela frente.
Sonho com dias melhores... E, sobretudo, luto por eles. Onde não há tentativas, não há acertos. Lute você também! "O futuro dependerá daquilo que fazemos no presente" Mahatma Gandhi.