sábado, 7 de dezembro de 2013

Solidariedade sempre.





"Não basta fazer coisas boas - é preciso fazê-las bem" Santo Agostinho.

Hoje, olhando os álbuns de fotos, fiz uma retrospectiva dos tantos Natais que participei em uma comunidade carente. Fechei os olhos por um momento e desejei que, no Natal que chegará, a festa seja muito mais bonita e farta de tudo... Amor, amizade, alegrias, fé e esperança de dias melhores para esse povo tão sofrido. Desejei, ainda, que a solidariedade não seja, apenas, uma isolada ação de Natal. Sabemos que Natal é tempo de partilha, de renascimento, de perdão... Sabemos também que nos demais meses do ano há muitas pessoas que acordam e não tem o que comer, que adoecem, que sofrem, que não tem um teto para chamar de seu e que estendem as mãos em busca de socorro. São muito válidas as ações de Natal, onde as pessoas reúnem-se para fazer doações de cestas, brinquedos, roupas, etc... e, assim, proporcionam um Natal melhor para aqueles que precisam. E janeiro? E maio? E setembro? E...? Sempre vi Natal nos outros meses. Sei que é possível fazer mais. É possível fazer sempre. Não há sensação melhor do que ver o Cristo nascer no coração daqueles que, em um dia qualquer, sentiram-se cuidados, olhados, amados... Cristo nasce a cada vez que estendemos as mãos a um irmão. Cristo nasce na gentileza, na educação, na sensibilidade, no olhar amoroso, na ação... Cristo nasce quando perdoamos. Cristo nasce, em um dia qualquer, quando fazemos o que é agradável aos olhos de Deus, quando nos despimos do orgulho, do preconceito, dos sentimentos menores... quando decidimos dizer "não" aos exageros, às escravidões do tempo em que vivemos. Sim, o Cristo nasce todos os dias em cada detalhe, em cada gesto, por menor que seja. 

Que todos façam uma reflexão sobre a verdadeira doação... aquela feita constantemente, capaz de fortalecer a fé, renovar a esperança, devolver a dignidade e a alegria de viver... a que faz o céu acontecer na Terra, que antecipa o nascimento do Menino Jesus. É preciso dar de si. Como disse Santo Agostinho: "Aquele que tem caridade no coração tem sempre qualquer coisa para dar."

Não tenhamos medo de incentivar... Caridade, quando não é vaidade, deve ser exemplo. Sejamos cada vez mais solidários. Olhemos mais para aqueles que precisam. Sejamos mais humanos. Amemos mais. 

Para aqueles, que por uma razão qualquer, não deram o primeiro passo, ainda há muito a ser feito. Experimentem. E, façamos este e os outros Natais, mais bonitos.


sexta-feira, 4 de outubro de 2013

São Francisco - Sinônimo de Amor e Ternura.


"Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa Paz."


Hoje é o dia de São Francisco, um dos santos mais queridos dos católicos. Desde o meu nascimento, ele está presente em minha vida, por promessa, por devoção, por admiração. Busco em nele inspiração para ser uma pessoa melhor a cada dia.

Francisco renunciou a uma vida de conforto e ao lado da pobreza seguiu os passos de Jesus. Conviveu com os pobres e doentes. Encontrava o Jesus humano em cada rosto necessitado que encontrava em suas missões. E não hesitava em ajudar. Percorreu muitos lugares com o objetivo de levar o evangelho a quem não o conhecia. Viveu o cristianismo com muita alegria, sensibilidade e leveza. Embora se sentisse pecador, pequeno e miserável, também sentiu as mãos de Deus o segurando. Acolheu cada ensinamento e entendeu que, se todos nós somos filhos de Deus, somos irmãos de toda a criação. Assim, chamou  a tudo de irmão e irmã... a todos os animais, até mesmo as criaturas mais insignificantes diante de outros olhos, o sol, a lua, as estrelas mais distantes, o vento que o tocava... O que causava dor e sofrimento, como a irmã doença, a irmã morte... E a tudo recebia como um presente do céu. Para ele, não havia distinção. Cumpriu com zelo o mandamento: "Amai-vos uns aos outros, como eu vos amo", João 15:12. Sua missão era árdua, reconstruir uma Igreja em ruínas. Desejava um mundo mais fraterno. Guiado pelo espírito de fraternidade, levou amor, onde havia ódio, perdão onde havia ofensa, união onde havia discórdia, fé onde havia dúvida, verdade onde havia erro, alegria onde havia tristeza, esperança onde havia desespero, luz onde havia trevas. Seguiu, pedindo a Deus muito mais contentamento em consolar, compreender, Amar... acreditou na ação como o melhor exemplo, acreditou que o maior prêmio não era receber, era dar. Eu acredito em sua intercessão e tenho absoluta certeza que ele continua acreditando na  humanidade, na irmandade, na vida, na paz, no bem e em todos os valores que em seu tempo cultivou.


O Amor, a coragem, a ternura, a compaixão, a simplicidade, a alegria, a obediência de Francisco... que tudo isso seja fonte de inspiração. Peçamos também ao Mestre a graça de ter o mesmo contentamento, a graça de levar a Paz e o Bem que o nosso querido "Chiquinho" levou a tantos lugares. E ainda leva através de tantos homens e mulheres que dão continuidade ao que ele começou.


Neste tempo tão sedento de Paz e Bem, sejamos "Franciscos" e "Franciscas", cheios de esperança, coragem e vontade para lutar até o fim. Cada um do seu jeito, mas com o mesmo propósito: Construir um mundo melhor.  Um mundo mais fraterno. 

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Sofrimento.




"Alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação,
perseverai na oração" (Romanos, 12:12).


O sofrimento sempre foi um "bom" tema e fonte de inspiração para muitos poetas. Impossível desviar os olhos desse acontecimento. Causa de muitos desgastes, causa de muitas tristezas, causa de muita reflexão... O sofrimento é uma das realidades mais recorrentes. Nós o experimentamos o tempo todo. A história de cada um de nós é marcada por grandes e pequenos acontecimentos. E, muitos deles, causam sofrimentos. É opcional sofrer? Querendo ou não, sofremos. O sofrimento tem o poder de nos construir ou destruir. Depende da postura que assumimos diante dele.

É difícil falar de sofrimento sem lembrar do calvário de Jesus. Ele viveu momentos de angústia suprema, sentiu a dor física, a dor da decepção, medo... mostrou que a cruz não foi uma encenação. Se Jesus sentiu tudo isso, quem somos nós para não sentir? O sofrimento é assim: Quando não chega como convidado, chega sem convite. E entra. E dói. Não há como camuflar, como maquiar, mas é possível suportá-lo com serenidade e maturidade, é possível decidir o que fazer a respeito, é possível lutar contra o tempo de sua permanência. Só é impossível não sofrer. Você, que me lê agora, talvez esteja pensando: "Eu não convido o sofrimento para entrar em minha vida." Ah, convida sim. Convida a cada vez que age contra si ou contra os outros. Nesse momento, cai sobre os ombros o peso das escolhas erradas. Se semeamos o bem, não podemos colher outra coisa senão o bem. Acredito profundamente que colhemos o que plantamos, mas acrescento que, sem percebermos, há os que invadem o nosso território e semeiam a destruição. Invadem e destroem tudo aquilo que foi cuidadosamente plantado, construído... deixam de brinde o sofrimento e uma mancha difícil de apagar. Não medem esforços para destruir. Não medem esforços para deixar o outro no fundo do poço. Quebram a confiança. Caluniam. Enganam. De repente, parece que o mundo desabou. O mal foi feito. É preciso agir com a verdade. Não podemos nos deixar vencer pelo mal. "Não se deixem vencer pelo mal, vençam o mal com o bem", (Romanos, 12:21). São decepções, injustiças... perdas. Volto novamente à cruz de Jesus. Que injusta cruz... apesar disso, Ele carregou até o fim. Carreguemos as nossas... justas ou injustas.

Quantas vezes, diante da dor, suplicamos: "Meu Deus, afasta de mim esse sofrimento"? Muitas vezes. A verdade é essa: Ninguém quer sofrer. O milagre que devemos pedir a Deus, não é que Ele afaste o nosso sofrimento, porque nem mesmo Jesus foi poupado de sofrer. Peçamos a Deus o milagre de ter um coração semelhante ao de Jesus. E, diante da dor, da decepção, da mentira, da injustiça, do medo, do erro, da ofensa, da incompreensão, da ansiedade, da angústia... peçamos força, coragem, maturidade e capacidade para lidar com os nossos limites e com os dos outros. De olhos abertos, conscientes e com uma postura madura, nos tornamos mais fortes e comprometidos a avançar e lutar. 

Quando a situação foge do controle e a solução não está ao nosso alcance, confiemos em Deus. Ele vê tudo. Quando as mãos humanas não alcançam, entram em ação as mãos divinas. "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei", (Mateus, 11:28)Há um propósito em tudo que nos acontece. Tudo tem um porquê. Às vezes, não entendemos o agir de Deus, mas Ele não falha... sempre faz o melhor para a nossa felicidade. "E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito", (Romanos , 8:28). 

Que ninguém desista de lutar. Que ninguém desista de acreditar que é possível superar, recomeçar, reconstruir e recuperar o que foi perdido. Que a esperança seja sempre uma luz apontando o caminho. Se cairmos, que seja aos pés do Senhor. Se chorarmos, que seja para regar a fé. Se a cruz pesar, Ele será a nossa força. "Pedi, e vos será dado; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á. Porque todo o que pede, recebe; e o que busca, encontra; e a quem bate, abrir-se-vos-á", (Mateus, 7:7-8).

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Gente como a gente...




"Ainda há gente que não sabe, quando se levanta, de onde virá a próxima refeição,
 e há crianças com fome que choram." Nelson Mandela


Quantas vezes passamos por uma calçada, uma praça, uma marquise, um viaduto... e encontramos um morador de rua indo e vindo, dormindo, sentado, jogado? Muitas vezes. Por que essas pessoas estão nas ruas? Você, que me lê agora, o que sentiu ao passar por uma dessas pessoas? Qual foi o seu primeiro pensamento?

São várias as razões que levam uma pessoa a viver e morar nas ruas. As mais apontadas são o alcoolismo, a drogadição, problemas psicológicos, desavenças familiares, desemprego e a falta de uma moradia convencional. Alguns dormem em albergues/abrigos, porque se sentem mais seguros... quando conseguem. Outros, preferem as ruas, a liberdade para o uso de drogas e álcool. Assim, todos os dias, calçadas se transformam em camas. Eles vivem sem endereço, sem rumo, sem esperanças, sem oportunidades. É triste a realidade da população em situação de rua. Muitas vidas. Muitas histórias. Muitos conflitos. Falta saúde. Falta tudo. Cerca de 79% dessas pessoas fazem uma (apenas uma) refeição todos os dias e 19% se alimentam em dias alternados. Poucos, trabalham informalmente, tendo rendimentos mínimos. Esses são dados que fazem parte de uma pesquisa realizada pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.  

No maranhão, assim como em todo o país, é difícil estimar a quantidade exata das pessoas que vivem nas ruas, principalmente, porque essa população não está inclusa no censo demográfico do IBGE. O número é absurdo e muitos não conseguem se reinserir na sociedade. Socialmente invisível, essa gente passa a vida jogada à própria sorte, com os direitos básicos de cidadania negados. Além da vida que já levam, são, constantemente, vítimas da violência e ainda sofrem a higienização social. Ações de retiradas arbitrárias e involuntárias constituem a higienização social. A expulsão, o tratamento inadequado não passam de preconceito, medo e inércia dos que reclamam. A verdade é que, por trás da aparência, quase sempre, grosseira, marcada pelos maus tratos, há muita fragilidade. Para a sociedade, quem está na rua é bandido e não presta. Atravessam a rua, mudam de calçada, mas não querem passar perto. Esquecem que os bandidos mais perigosos estão por aí, vestidos com seus ternos caros (nada contra os ternos), lutando por qualquer coisa (menos pelo povo)... mas essa é outra história. Sabemos que é grande a violência nas ruas. Sob o efeito das drogas, álcool e fome, alguns moradores de rua cometem delitos, mas essa não é uma prática exclusiva deles. Há os que não fazem isso e nem usam drogas. Aqueles que praticam os maiores delitos nas ruas, não moram nelas, não dormem em becos escuros, sobre papelões ou sob as luzes dos postes. Na rua também há gente de bom caráter, gente precisando de ajuda... gente como a gente.

As ações das organizações não governamentais e Igrejas, são lindas e levam alimento para o corpo e a alma. Apesar dos esforços, é fundamental a implementação de ações mais firmes e conjuntas entre as organizações, Igrejas e os diversos setores dos governos, para não só assegurar os direitos, mas também para permitir que essa gente sofredora volte a ter um lar, uma vida digna. As políticas públicas devem se voltar para a reintegração à rede familiar e à sociedade. É exatamente isso que prevê o decreto nº 7.053 de 2009 que ainda não foi implantado na maioria dos estados. Que eles sejam reconhecidos como sujeitos de direitos e tenham condições de desenvolvimento social pleno, como também prega o Artigo 6º da Constituição Federal: "São direitos sociais: a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados."

Participo de ações ligadas à população em situação de rua e confesso que, depois de tantos anos, não vejo muitas mudanças por parte do "poder maior". Enquanto isso não acontece, estaremos lutando, fazendo algo mais, com coragem e esperança. Como disse Nelson Mandela: "Devemos promover a coragem onde há medo, promover o  acordo onde existe conflito e inspirar esperança onde existe desespero". Queremos teto sobre todas as cabeças; queremos alimento em todas as mesas; queremos passar pelas calçadas sem a sensação de estarmos pisando na cama de um irmão; queremos oportunidades para que esse povo possa viver como precisa.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

João Batista alegrou o mundo.


"É necessário que ele cresça e eu diminua" (Jo 3, 29)


É uma honra ter em meu blog, o lindo e pertinente artigo do amigo Pe. Geovane*. Agradeço a ele pela delicadeza da partilha. Com satisfação transcrevo, abaixo, suas palavras.

"São João Batista é lembrado como uma pessoa que viveu com muita seriedade e com muito rigor, na austeridade e na penitência, anunciador da verdade e da justiça, prometendo tempos bons e o futuro tão esperado pela humanidade. Foi consagrado de tal modo, que ainda no seio materno, ele exultou com a chegada do Salvador da humanidade e seu nascimento trouxe grande alegria ao mundo, na realização de sua promessa, com tempos novos, tempos messiânicos. É a esterilidade de seu Pai, Zacarias, que se transformou em fecundidade e o homem mudo, passou a ser um profeta corajoso e exuberante (cf. Lc 1, 57s).

João Batista nos ajuda a perceber a insatisfação vivida pelo povo brasileiro diante do dinheiro público em obras faraônicas, de pouca utilidade, que satisfaz sim, a vontade das empreiteiras e dos políticos, mas léguas e léguas distantes das reais necessidades da população. Por isso mesmo, a juventude não concorda com os elevados gastos nos estádios da Copa, num país que geme as dores do parto no transporte público, bem como o desvio dos recursos nas grandes obras, nas estradas sem conservação, no mísero salário dos professores públicos, sem falar na realidade precária da saúde e no avanço do agronegócio.

Um homem foi enviado por Deus, e o seu nome se chamava João. O Evangelho de São João, logo no início, depois do prólogo, trata do batismo realizado por João no Rio Jordão, batizando o autor do batismo nas águas santificadas, tendo como ponto alto o seu encontro com Jesus, que ao ver passar, reconhece-o e assim se expressou: “Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29).

Para vivermos bem e realizados, é necessário que se faça o seguimento de Jesus de Nazaré, a partir da exigência, que tem origem no seu projeto de amor para conosco, através da experiência central e decisiva, na obediência ao projeto do Pai em favor da humanidade, a exemplo de João Batista, que recebeu a imprescindível missão de testemunhá-lo como luz e desse modo preparar um povo bem disposto a acolhê-lo.

Foi ele que preparou o povo para o início da missão pública de Jesus, dizendo com todas as letras que ele mesmo caminharia à frente do Cristo Jesus, anunciando que os sinais dos tempos chegaram e as promessas anunciadas por Zacarias estavam para se realizar. O seu vibrante convite foi o de acordar o povo do sono, muitas vezes profundo, para reconhecer o Salvador, como o sol que veio nos visitar.

No mundo em vivemos, diante das prioridades nos projetos megalômanos, muitas vezes em detrimento da pessoa humana, sem esquecer o meio ambiente, com todo seu ecossistema, guardemos como ensinamento e inspiração as palavras sábias e proféticas do glorioso São João Batista: "É necessário que ele cresça e eu diminua" (Jo 3, 29).

A afirmação de Jesus, “Eis-me aqui, ó Pai, para fazer a tua vontade” (Hb 10, 9), nos indica o caminho da verdade e da vida, através próprio Filho Deus, que ao se encarnar e entrar no mundo realiza a vontade daquele que o enviou. Daí a importância de olhar para a grandeza do precursor, do homem que se alimentava de gafanhotos e mel da selva, figura humana e divina, que recebeu o maior do todos os elogios do seu Mestre e Senhor, ao afirmar: “Dos nascidos de mulher, ninguém é maior que João Batista” (MT, 11, 11).

Deus nos dê a graça da esperança, de sempre sonhar com tempos novos, quando nos assegura que podemos ser maior que João Batista, transformando-nos em artífices do reino de Deus, na busca da justiça e da verdade, da solidariedade e da paz, no caminho do bem."

        
                                                                                                                         

*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, escritor,  membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente da  Previdência Sacerdotal - Pároco de Santo Afonso.

sábado, 11 de maio de 2013

Três Marias.


"Salve, ó Senhora santa, Rainha santíssima, Mãe de Deus, ó Maria, que sois
virgem feita igreja,  eleita pelo santíssimo Pai celestial, que vos consagrou por
seu santíssimo e dileto Filho e o Espírito Santo . Em Vós, residiu e reside toda a
plenitude da graça e todo o bem" São Francisco de Assis.


Todos os anos, no dia das mães, lembro da minha infância. Lembro de muitos momentos vividos ao lado das mulheres da minha vida. As três Marias. Elas sempre estavam lá. Cada uma do seu jeito. Cada uma com a sua importância.

Fui gerada no ventre de uma Maria. Uma mulher forte, guerreira, bondosa, dedicada,  amiga... Minha melhor amiga. É no colo dela que eu deito e, sem receios, mostro minhas fragilidades e derramo as minhas lágrimas. É com ela que eu divido minhas alegrias, tristezas, vitórias e fracassos. Nas dúvidas, recorro aos seus conselhos. Ela tem o dom de fazer eu enxergar o que não consigo ou, às vezes, não quero. Ela tem a capacidade de ouvir o meu silêncio. Quando eu digo que não sou capaz, ela diz: "Você pode", "Você consegue", "Lute". E quando eu acho que não posso voar, ela me dá asas. Está sempre me incentivando. Quando me falta força, ela é o meu apoio. Estamos juntas, vivendo, sonhando, lutando... sempre. Uma cuidando da outra. Quando ela é fogo, eu sou água. Quando ela é água, eu sou fogo. Nos completamos. 

A Maria que me deu a vida, nasceu de uma Maria. Minha outra Maria. A Maria que por um determinado tempo assumiu a dupla função: mãe e avó. Minha mãe avó, a mulher que cuidou de mim na minha infância, a mulher que me construiu. Uma mulher simples, virtuosa, que mal sabia assinar o próprio nome, mas transbordava valores. Com minha avó aprendi a rezar, a cozinhar, a cuidar da casa, a costurar, a plantar, a regar, a colher, a cuidar dos bichos...  Com ela, aprendi que um coração não deve ter cercas, não deve ser guardado. Usava Jesus como exemplo, mostrando que Ele sempre ofertava o Seu coração. Ela explicava que é por esse motivo que, nas imagens, o coração de Jesus aparecia sempre do lado de fora do peito. O que há de melhor em mim, aprendi com ela. Enquanto costurava, cantava e contava histórias, eu ficava sentada no chão, perto da máquina de costura, brincando com os retalhos que sobravam e ouvindo atentamente as canções, as histórias. Aprendi, também, a ser mãe... mãe das minhas bonecas de pano (as poucas bonecas que eu tinha eram de pano). As bonecas que ela fazia, que eu fazia. Eram lindas. E assim, cresci. Infelizmente, aos 92 anos, ela faleceu por complicações de um acidente vascular encefálico. Eu chorei. Eu sofri. Senti uma dor incomensurável. Senti um pedaço de mim indo embora. O que me consola é olhar no espelho e enxergar os seus traços em mim, o pedaço que ficou em mim. Às vezes, penso que deveria ser proibido as pessoas, como ela, morrerem. Mas a vida é assim. Tudo que podemos fazer é viver intensamente, o tempo que ainda temos, ao lado dessas pessoas.  Minha avó era uma mulher incrível. Foi através dela que conheci a outra Maria da minha vida. A Maria que não é só minha, é de todos nós. Maria cheia de graça,  cheia de Amor, bendita entre as mulheres, Serva do Senhor, manifestação do Amor de Deus, Mãe acolhedora, Mãe de Jesus, da qual minha avó era muito devota. Todos os dias, às 18h, era sagrado rezar o terço. Essa era a vida da minha avó. Nossa Senhora, essa Mãe que acolhe e não escolhe, me sustenta, me segura. Compartilho com Ela todos os meus sonhos... pedindo sempre que, através da Sua intercessão, eu saiba a direção a seguir; que as minhas vontades coincidam com as do Seu Filho. Ela conhece o meu coração e sabe que caminho com Ele. Com essa Mãe já vivi experiências fantásticas. Tudo que vivi, contribuiu para aumentar ainda mais a minha fé. Sigo por este caminho, chorando, sorrindo, caindo, levantando... mas esperançosa sempre, porque Ela está na frente guiando, iluminando e florindo. 

Neste dia, que é uma homenagem às mães, peço que Nossa Senhora interceda por todas... dê a cada mãe, as virtudes que lhe faltarem; dê força para que elas sejam sempre um porto seguro, onde os filhos possam estar, possam voltar; dê saúde para que elas possam viver por muitos anos e tenham a graça de ver a geração de netos e bisnetos...; dê sabedoria para que elas sejam fonte de vida e esperança para os filhos;   dê, sobretudo, paciência e coragem para lutar pelos filhos que se perderam. Que nenhuma mãe, jamais, desista de um filho. E que os filhos sejam amorosos, zelosos e pacientes. 

Agradeço às minhas Marias pelo amor, dedicação... e por tudo que eu aprendi e ainda haverei de aprender.

Parabéns às mães... todas as mães. Amigas presentes, distantes... todas!



quarta-feira, 17 de abril de 2013

O que sucede às virtudes?





"Quanto à virtude, não basta conhecê-la, devemos tentar
também possuí-la  colocá-la em prática" Aristóteles.


Cada um de nós é responsável pela própria história. Histórias compostas por muitas lutas, vitórias, fracassos, erros, acertos, dores, prazeres, dissabores, afetos e desafetos... aprendizados necessários. A experiência vivida é parte do que somos hoje. Ser o que somos ou ser o que queremos, não é uma tarefa fácil. Independente de qualquer coisa, cada um tem o seu valor. Ninguém é menos ou mais. Ninguém nasce bom ou mau. Ninguém nasce virtuoso. Ninguém é mau involuntariamente. É cultivando virtudes que adquirimos a disposição de aprender a fazer o bem, a ser justo e se portar e agir com humanidade. Nós somos aquilo que habitualmente fazemos, portanto, podemos ser o que queremos ser. Ninguém é perfeito, mas somos aprimoráveis. Estamos todos em construção. E, nesse processo, é fundamental cultivar os valores que contribuam para que, dia a dia, sejamos melhores. Melhores na alegria, melhores no amor, melhores com e para os outros. E, melhores na tristeza, na dor e no sofrimento. Como podemos melhorar a nossa capacidade de lidar com os contrários da vida, com o que nos faz sofrer? Difícil? Sem dúvida, é. Mas encontramos exemplos e mais exemplos de que podemos ser melhores também no que traz desconforto. Conheci uma pessoa que passou por um doloroso tratamento de câncer com um, inacreditável, sorriso no rosto. Enquanto todos esperavam pela morte, ela lutava pela vida. Enfrentou a doença com uma força incrível. Ela foi melhor na dor e no sofrimento. Acreditou, teve fé, esperança e venceu algumas vezes. Perdeu a última batalha, mas enfrentou a dor com muita força. A força que nos sustenta e que nos faz acreditar e seguir em frente vem do hábito de alimentar o coração com o que é bom. Cultivar bons hábitos deve ser uma prática constante. Isso é o que precede e prepara o caminho - O caminho do crescimento, do aprimoramento. É impossível ter força e agir com benevolência, sem, pressupostamente, a coragem, a serenidade, a tolerância, a temperança e o respeito por si mesmo e pelos outros. É com esse espírito que poderemos suportar, com dignidade, as contingências da vida, e a nos comprometer a fazer bem feito o que deve ser feito. 

Continuo dizendo: É preciso cultivar virtudes. O mundo está carente de amor, de ética, de paz, de tolerância, de humanidade, de compreensão, de oportunidades, de respeito, de menos julgamentos... Muitas "guerras" poderiam ser evitadas se as pessoas fossem mais tolerantes e soubessem conviver com as diferenças. Muito sofrimento seria evitado se houvesse menos injustiça e desonestidade. Muitos corações não estariam aos pedaços se houvesse mais amor, confiança, diálogo, verdade, atenção, dedicação e gentileza. Muitas pessoas sofreriam menos preconceitos se houvesse mais respeito e senso de igualdade. Muitas crianças não estariam perdendo a infância, com as drogas e o crime, se fossem mais cuidadas. O país seria muito melhor se não houvesse tantas falhas na democracia e tivéssemos mais Políticos "cuidadores de gente". Haveria muito mais igualdade se tivéssemos uma Educação de qualidade e ela fosse um direito completamente cumprido. Não é possível falar sobre as virtudes sem lembrar do mundo - o "mundo" que pulsa, que chora, que grita, que carece e pede. São muitos "se houvesse", "se tivéssemos", no entanto, há muita esperança de ainda podermos conjugar esses verbos no presente... Enquanto os valores essenciais não são, individualmente, cultivados, o "mundo" estará sempre aquém do esperado.

Os valores que todos nós apreciamos, busquemos sem cessar. Não podemos exigir que o outro seja o que queremos, mas podemos ser o que queremos que o outro seja - E ser exemplo. Não podemos permitir que o nosso modo de agir seja determinado por alguém ou por fatores, negativamente, externos, mas podemos agir sob a influência daquilo que cultivamos e que nos conduzirá a uma satisfação plena. Isso é ser feliz. Assim, diante do ódio e amargura, sejamos amorosos; diante do que tenta fazer de nós o que não somos, deixemos o tempo trabalhar a nosso favor, sejamos pacientes e capazes de perdoar; diante das contendas e do desequilíbrio, sejamos mansos e pacíficos; diante do que não sabe o valor de "doar-se", sejamos generosos; diante da maldade, sejamos tolerantes e benevolentes; diante da mentira, sejamos verdadeiros; diante da indiferença, sejamos atenciosos e sensíveis; diante da ignorância, sejamos gentis; diante do racismo e preconceito, tenhamos sempre em mente que, aos olhos de Deus, somos todos iguais, apesar de diferentes; diante da falta de civilidade, busquemos resgatar as virtudes, por muitos, esquecidas. Não é fácil, mas é preciso praticar, porque é isso que sucede às virtudes: Um ser humano muito melhor... e, como resultado, um mundo melhor também.  

terça-feira, 12 de março de 2013

Atravessando o deserto.

 
Disse Jesus: "Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, nunca andará
em trevas, mas terá a luz da vida" João 8:12


Estamos na 4ª semana da quaresma. Estamos atravessando o deserto. Para muitos, a quaresma, é apenas os dias que antecedem a festa onde o chocolate é a atração principal. Para outros, é o período que antecede a entrega de Jesus por nós e a sua Ressurreição - A Páscoa Cristã. A quaresma representa os 40 dias que Jesus passou no deserto. Uma história da qual podemos tirar lições preciosas.

Após ser batizado, por João, no Rio Jordão, Jesus foi levado, ao deserto, pelo Espírito Santo. Um tempo de preparação. Um tempo de provações. Um tempo que não foi fácil. Jesus sofreu muitas tentações. O diabo, maliciosamente, testando as limitações humanas de Jesus, o desafiou a transformar pedras em pães. A intenção era fazer Jesus sucumbir após muitos dias de jejum. "Se és o Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães". Jesus, lembrando que foi conduzido, por Deus, ao deserto, sem qualquer alimento, confiou: "Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus" (Mateus 4:4). O inimigo, não satisfeito,  insistiu. Levando Jesus ao lugar mais alto do templo, disse: "Se és filho de Deus, atira-te abaixo, porque está escrito: Aos seus anjos, ordenará, a teu respeito, que te guardem; e, eles, te sustentarão nas suas mãos, para não tropeçares com teus pés em pedra".  Tentou contra a confiança e espiritualidade de Jesus. A verdadeira confiança, não experimenta, não testa. E mais uma vez, respondeu Jesus: "Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus" (Mateus 4:7). Assim, Jesus seguiu, sem vacilar. Em mais uma tentativa frustrada, o diabo ofereceu, a Jesus, todos os reinos do mundo, poder, glória e riquezas se em troca, prostrado, o adorasse. Um reinado sem "cruz". Um reinado sem "milagres". Um reinado sem "graças". Mas, fortalecido pelo Espírito Santo, Jesus reagiu: "Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás" (Mateus 4:10). Somos, constantemente, convidados a fazer o que desagrada a Deus. Tudo começa com pequenos descuidos, pequenos erros... Algumas vezes nem percebemos, porque estamos ocupados demais e, muitas vezes, estamos olhando o que o coração não vê. Hoje, vivemos em um mundo de interesses onde há: muitas pessoas usando pessoas; muita vaidade e soberba travestidas de humildade, bondade e simplicidade; muita hipocrisia fantasiada de franqueza e sinceridade; muita covardia disfarçada de coragem; muitas mentiras sendo contadas como verdades, muito ódio para pouco amor... É, estamos atravessando um grande deserto. Mas, tudo tem uma razão de ser. E, o mais importante é que esse deserto, finda.

Assim como Jesus, também necessitamos de recolhimento. É tempo de oração, reflexão, conversão, caridade e proximidade com Deus. Aliás, todo tempo é tempo. Não adianta sair do deserto e não manter o propósito. E, isso, tem um preço. Somos tentados quando decidimos atravessar o deserto com Jesus; quando decidimos nos aproximar mais de Deus; quando nos recolhemos para limpar o coração de tudo aquilo que não é fruto Dele; quando buscamos o crescimento espiritual... Cada um com o seu deserto, cada um com as suas fraquezas... fraquezas que precisam ser vencidas, superadas.

Antes de ser preso, Jesus disse aos discípulos: "No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, Eu venci o mundo!". Jesus venceu a morte, venceu o mundo! E você, vencerá? Que mundo você precisa vencer? Este, é o tempo certo para enfrentar o mundo de medos, de dificuldades, de erros, de conflitos, de orgulho... e, tantos outros, mundos de obstáculos. É tempo de mergulhar profundamente para resgatar o que foi perdido, para resgatar a força e a luz. É preciso confiar. Só assim, fortalecidos e iluminados, poderemos chegar ao final do deserto; só assim, estaremos preparados para receber o Cristo Ressuscitado; só assim, poderemos carregar, não nos ombros, mas no coração, a cruz.

Não podemos perder a esperança. Devemos caminhar com fé e lutar sempre para que o mundo seja melhor, para que sejamos melhores. Deus nos ama de tal maneira que enviou o seu Filho para que o mundo fosse salvo. Portanto, cuidemos desse Amor, cuidemos uns dos outros. Nós somos o mundo!

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Momento de fraqueza...

“Cada coisa a seu tempo... Não florescem no inverno os arvoredos, 
nem pela primavera, têm branco frio, os campos.” Fernando Pessoa 


Olho para o relógio do pulso, do criado-mudo, da parede, das ruas... Eles dizem tudo, exceto as horas. Às vezes, me sinto assim. Não sei o que fazer. Não sei o que pensar. Não sei se é cedo ou tarde... se o tempo parou ou as coisas pararam no tempo; se permaneço ou me desfaço; se fiz ou deixei de fazer; se falei demais ou de menos; se entreguei todo o meu ouro, quando deveria guardar; se cantei na hora errada, cantei a música errada ou não deveria cantar; se...

De repente, tudo parece perdido. Paraliso. Nessas horas, que os relógios teimam em não dizer... e ninguém diz, há uma mensagem oculta que, ás vezes,  eu não consigo entender. Outras vezes, entendo, mas não aceito. Quero o concreto, a verdade, o doce escondido. Desses momentos, resta a generosidade da alma absorta, serena... A paciência também é uma companhia. E, por trás dela, descubro um sentimento extraordinário... bonito por não ser fruto de nenhum plano. Desejoso de ser mais, de ser "nós." 

Diante da dúvida, vem a antiga, mas sempre nova credencial que, em instantes, me  leva ao futuro, mostrando um tempo que virá. Um tempo, onde não haverá espaços para "se", "talvez", "ou", "quem sabe". Me fala de coisas que, certamente, a razão não falaria. Esta credencial que chamo de intuição, quase nunca falha e eu quase sempre acredito. Quase sempre. 

Sobre o tempo, nada sei... mas o que era efêmero se desfez. Ficou o que é eterno.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Escravos contemporâneos.

"O único tirano que aceito neste mundo é a voz interior, suave 
e serena." Mahatma Gandhi

Faz algum tempo que estive em Açailândia, município maranhense, participando da "I Jornada de Debates para a Erradicação do Trabalho Escravo no Maranhão”, promovida pela Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado e participação da OIT - Organização Internacional do Trabalho, entre outros participantes. Nesse período, trabalhei nessa secretaria, em cargo de comissão.  Em virtude disso, tive a oportunidade de participar de muitos eventos como esse. A vontade de aprender, de ajudar e a curiosidade me levaram a muitos lugares. Na passagem do Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo, 28 de janeiro, lembrei-me de todo o aprendizado da Jornada... Lembrei-me de tudo que vivenciei e das histórias assustadoras que ouvi.

Acho estranho falar sobre trabalho escravo no século em que vivemos. A escravidão foi abolida, na época do império, com a Lei Áurea. Mas, lamentavelmente, a escravidão, ainda que não seja a mesma do passado, está entre nós de uma forma mais moderna, dissimulada e silenciosa.  As pessoas são submetidas a uma situação degradante e desumana. A pouca instrução e o analfabetismo contribuem para que eles sejam enganados. Seus documentos são retidos e as dívidas, injustamente, contraídas, os fazem perder a liberdade de ir e vir. Pagam até pelo que deveria ser uma obrigação do empregador. No fim, recebem nada ou quase nada. A verdade, é que essas pessoas pagam para trabalhar. O Maranhão é o 4º estado com maior número de empregadores escravistas. A zona rural é uma região muito traumatizada pelos conflitos e pela violência. Os trabalhadores são tratados como verdadeiros escravos.

As bases do trabalho escravo são os altos lucros gerados pela mão de obra "barata" e a impunidade. Sim, impunidade. Porque a maioria dos empregadores escravistas tem grande influência política e econômica. Sabemos muito bem como isso acontece. É um "molha a mão" aqui, um "molha a mão" ali. Sou totalmente a favor da PEC do trabalho escravo, que expropria terras onde esse tipo de trabalho acontece. A emenda foi aprovada em 2012, mas ainda tramita no Congresso. Acredito no esforço conjunto de todos que lutam para combater esse mal, mas o número de auditores fiscais do trabalho e servidores envolvidos é insuficiente. Quanto mais fiscalização, mais as necessidades serão atendidas. Nos últimos anos, milhares de  pessoas foram libertadas, entretanto, há uma grande dificuldade em punir os "poderosos".  Há, na internet, uma lista suja com 409 nomes de empregadores escravistas. Para eles, tolerância zero.

Sou inquieta com todas as questões que tentam diminuir a pessoa humana. O trabalho não deve degradar o ser humano, mas dignificá-lo. Segundo Gandhi, alguns dos pecados capitais responsáveis pelas injustiças sociais são: Riqueza sem trabalho; comércio sem moral; política sem idealismo; e ciência sem humanismo. É preciso reprimir essas práticas. Não há fórmulas mágicas ou um botão de upgrad para que tudo seja melhorado em um clique, no entanto, para aqueles que, como eu, acreditam, há muito trabalho pela frente. 

Sonho com dias melhores... E, sobretudo, luto por eles. Onde não há tentativas, não há acertos. Lute você também! "O futuro dependerá daquilo que fazemos no presente" Mahatma Gandhi.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Trabalho não é brincadeira...


"A palavra progresso não terá qualquer sentido enquanto 
houver crianças infelizes." Albert Einstein


Passei os últimos três dias na fazenda de um casal de amigos. Natureza, frutas frescas, comida saborosa, banho de rio, pescaria, cavalgada, cheiro de mato, amigos reunidos  e muita cantoria sob o céu estrelado. O acontecimento mais importante foi, ontem, quando decidi dar uma volta com o cavalo.  Passando por uma estrada de piçarra, avistei um menino seguindo na mesma direção.  Ele estava sozinho, carregava uma enxada e um saco. Fiquei incomodada por ver um menino tão pequeno andando sozinho. Apressei os passos do cavalo e cheguei mais perto. No saco, era possível ver uma garrafa (pet), uma vasilha, prato, colher e copo. Ele me olhou, de lado, meio desconfiado. Desci do cavalo e iniciei uma conversa. Seguimos caminhando. Em poucos minutos, percebi, através de sua expressão, uma vida nada fácil. Ele se chama Edson, tem 9 anos, o pai é agricultor, tem 3 irmãos mais velhos, a mãe cuida da casa, mas está doente. O problema maior é que ele não foi à escola em 2012, porque estava trabalhando, na roça, com seu pai. Uma criança de pouca infância. Um menino homem,  cheio de responsabilidades... e sonhos. Sim, falamos sobre sonhos. “Meu sonho é ter um cavalo branco e uma casa com parede de tijolo”. Não sei dizer se o meu passeio terminou nesse momento ou passou a ter sentido a partir dele. Sorte minha, ter passado por aquele lugar.

Pensando no Edson, fico imaginando... Quantos, como ele, existem por aí? Muitos. O trabalho infantil é um grave problema social.  É uma causa significativa do abandono escolar. Segundo pesquisas do IBGE, houve uma redução no número de crianças que trabalham. Mas, ainda há muitas crianças, Brasil afora, substituindo lápis, cadernos, livros, brincadeiras... por enxadas, trabalho urbano... São obrigadas pelos pais, pela pobreza, por terceiros... E, até mesmo, por uma questão cultural. Para muitas famílias, o trabalho agrega valores e pode ajudar no desenvolvimento da criança, do adolescente. Está tudo errado. Lembrando que, ás vezes, o trabalho é forçado e acompanhado de agressões. Isso não agrega nada, além  de traumas. Nesse caso, gera lucro para quem explora e pobreza para o explorado. Sendo, assim, caracterizado como trabalho escravo. Trabalho escravo, outro problema sério. Conheço bem essas duas realidades, porque sou uma eterna incomodada.

O Maranhão é o 4º colocado no ranking nacional da exploração do trabalho infantil. O maior índice é na zona rural. Acredito que, se o número de crianças trabalhando, ainda é muito alto e a redução acontece lentamente, o problema pode estar na execução do programa de erradicação. É preciso focar mais nas famílias. Entender. Convencer. Ajudar. Não queremos resultados "mais ou menos". Não queremos políticas públicas "boazinhas". Queremos mais resultados positivos. Queremos gente comprometida,  gente que faça acontecer, gente que tenha "peito" para alargar os horizontes e enfrentar os senhores do movimento: “Isso nunca mudará”. Não é fácil, mas é possível viver outra realidade. Eu acredito.

Precisamos preparar os adultos do futuro. O primeiro passo, é deixar que as crianças sejam o que devem ser: crianças.  O estatuto é lindo, e pode ser muito mais, se for cumprido.

Quanto ao Edson, tenho absoluta certeza, nos encontraremos outras vezes...